Pain Teaching beyond technical knowledge: a reflection on soft skills for healthcare professionals
O ensino sobre dor além do conhecimento técnico: uma reflexão sobre soft skills para profissionais de saúde
Lorrane Alves da Silva Mendes; Anamaria Siriani de Oliveira; Josimari Melo DeSantana; Felipe J. J. Reis
Pain, especially chronic pain, can be considered a public health problem responsible for generating disability for daily activities and work, as well as high individual and social costs. It is relevant that health professionals are adequately trained for the management of people with pain. In order to establish specific contents for the education and training of health professionals in pain, the International Association for the Study of Pain (IASP) has established a recommended curriculum, the “IASP Core Curriculum”, for the training of various health professionals, including psychologists, physiotherapists, occupational therapists, nurses, physicians, dentists, social workers and pharmacists. The aim of the curricula is to define the knowledge and skills needed to advance the science and management of pain, taking into account the competencies of each professional and their role in the healthcare team. These curricula have been established on four pillars that are based on fundamental concepts about the complexity and management of pain, including the multidimensional nature of pain, assessment, pain management and specific clinical conditions. In 2017, these curricula were revised by IASP and some were adapted to the Brazilian context.
The definition of curricula with important knowledge and skills for the approach of people with pain is an important measure to promote the adequate professional training. However, mentions of the humanistic aspects of health care are rarely presented and are limited to the need for empathy, interprofessional relationship and communication with the patient and family. It is important to emphasize that health professionals need to have competencies that derive from the combination of technical, specific and traditionally taught skills (“hard skills”), and non-technical ones (“soft skills”), to deal with people in their professional practice.
Soft skills are presented here as socioemotional skills, i.e. skills associated with the behavioral and emotional profile of each individual and are therefore less tangible and more difficult to teach and assess. Soft skills involve emotional, behavioral and cognitive development skills, such as communication, critical and structured thinking, problem solving, teamwork ability, negotiation, cultural awareness, sociability, empathy and respect for diversity, among others. The literature shows that teaching health professionals to practice empathic validation, which refers to the ability to understand and share another person’s feelings and experiences, can facilitate communication and make patients feel more accepted and satisfied with their treatments.
Despite being understood as important for professional practice in an interdisciplinary team that cares for people with pain, soft skills training is not sufficiently or equally managed as hard skills. Justifications for this lack may be the valorization of content-based training, the establishment of few teaching-learning objectives related to attitudinal skills and the development of professionalism, and the need for teacher training to understand and systematize the process of evaluating student progress in these topics. As a result, non-technical skills are relegated to the hidden curriculum, worked on unofficially and unplanned, or are simply neglected. It is therefore relevant to bring to the discussion how health professionals can systematically and intentionally develop soft skills during their training.
The literature highlights that teacher-centered teaching methods, such as expository class, may not be adequate to develop interpersonal skills during undergraduate or continuing education. Thus, the formal approach to the problem would be to incorporate these interpersonal skills during health professional training. A strategic way to offer soft skills training to students is to incorporate them into hard skills teaching. The inclusion of soft skills training can be effectively integrated into each discipline, using didactic tools that help students develop them, based on active teaching methodologies strategies, such as project-based work, simulation, group case studies, action learning, debate, among others. These teaching strategies can contribute significantly to the teaching-learning of soft skills, stimulating students’ active involvement in understanding and caring for patients’ experiences of suffering, without reducing, judging, denying or replacing reports. As an example, we can mention Problem-based Learning and Project-based Learning, which are based on solving simulated or real problems in groups as a way of combining the development of socioemotional skills and the construction of collaborative and meaningful technical knowledge.
In this editorial, we highlight the importance of knowledge and technical training (hard skills), but we also stress the need for discussion about intentionally and systematically including adequate training on soft skills in the apprenticeship of health professionals. The development of these non-technical skills seems to play a crucial role in the interdisciplinary team and in the integral approach of the patient, allowing professionals to establish effective communication, demonstrate empathy, promote collaboration and understand the experience of suffering lived by people in pain.
In this way, we bring the discussion about the need to rethink the set of objectives, opportunities and evaluation of teaching-learning of socio-emotional skills of health professionals, considering active and student-centered strategies that allow the development of these skills in a practical and meaningful way. These approaches have the potential to significantly improve the quality of care and the well-being of patients. We also highlight the need for studies on the influence of soft skills over clinical practice, as well as teaching-learning methods, to be investigated in the context of Brazilian health professional training.
Resumo
A dor, especialmente a crônica, pode ser considerada um problema de saúde pública responsável por gerar incapacidade para atividades diárias e trabalho, assim como altos custos individuais e sociais. É relevante que os profissionais de saúde sejam treinados adequadamente para o manejo das pessoas com dor. Com o objetivo de estabelecer os conteúdos específicos para a educação e o treinamento em dor dos profissionais de saúde, a Associação Internacional para o Estudo da Dor (International Association for the Study of Pain – IASP) estabeleceu a recomendação de currículo, o “IASP Core Curriculum”, para a formação de diversos profissionais da área da saúde, incluindo psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, médicos, dentistas, assistentes sociais e farmacêuticos. O objetivo dos currículos é definir o conhecimento e as habilidades necessárias para o avanço da ciência e do manejo da dor, levando em consideração as competências de cada profissional e seu papel na equipe de saúde. Esses currículos foram estabelecidos em quatro pilares que se baseiam em conceitos fundamentais sobre a complexidade e o manejo da dor, incluindo a natureza multidimensional da dor, a avaliação, o manejo da dor e de condições clínicas específicas. Em 2017, esses currículos foram revisados pela IASP e alguns sofreram adaptações para o contexto brasileiro.
A definição dos currículos com os conhecimentos e as habilidades importantes para a abordagem das pessoas com dor é uma medida importante para promover o treinamento adequado dos profissionais. No entanto, as menções sobre os aspectos humanísticos dos cuidados de saúde são raramente apresentadas e estão limitadas à necessidade da empatia, à relação interprofissional e à comunicação com o paciente e a família. É importante destacar que os profissionais de saúde necessitam ter competências que derivam da combinação de habilidades técnicas, específicas e tradicionalmente ensinadas (“hard skills”), e as não técnicas (“soft skills”), para lidar com as pessoas na sua prática profissional.
As soft-skills são apresentadas aqui como habilidades socioemocionais, ou seja, habilidades associadas ao perfil comportamental e emocional de cada indivíduo e, portanto, são menos tangíveis e mais difíceis de ensinar e avaliar. As soft skills envolvem habilidades de desenvolvimento emocional, comportamental e cognitivo, como a comunicação, o pensamento crítico e estruturado, a resolução de problemas, a capacidade de trabalho em equipe, a negociação, a consciência cultural, a sociabilidade, a empatia e o respeito à diversidade, entre outras. A literatura mostra que ensinar os profissionais de saúde a praticarem a validação empática que se refere à capacidade de compreender e compartilhar os sentimentos e experiências de outra pessoa, pode facilitar a comunicação e fazer com que os pacientes se sintam mais aceitos e satisfeitos com seus tratamentos.
Apesar de serem entendidas como importantes para a prática profissional em uma equipe interdisciplinar que atende pessoas com dor, o treinamento das soft skills não é suficientemente ou igualmente gerenciado como são as hard skills. Justificativas para essa carência podem ser a valorização da formação conteudista, o estabelecimento de poucos objetivos de ensino-aprendizagem relacionados às habilidades atitudinais e ao desenvolvimento de profissionalismo, e a necessidade de capacitação docente para compreender e sistematizar o processo de avaliação do progresso do estudante nesses tópicos. Como resultado, habilidades não técnicas ficam relegadas ao currículo oculto, trabalhadas de forma extraoficial e não planejada, ou são simplesmente negligenciadas. É, portanto, relevante trazer para a discussão como os profissionais de saúde podem desenvolver, de maneira sistemática e intencional, soft skills durante a sua formação.
A literatura destaca que os métodos de ensino centrados no professor, como as aulas expositivas, podem não ser adequados para que se desenvolva as habilidades interpessoais durante a graduação ou na educação continuada. Assim, a abordagem formal para o problema seria incorporar essas habilidades interpessoais durante a formação do profissional de saúde. Uma maneira estratégica para oferecer o treinamento de soft skills aos alunos é incorporá-las ao ensino de hard skills. A inclusão do treinamento das soft skills pode ser efetivamente integrada em cada disciplina, utilizando ferramentas didáticas que ajudem os alunos a desenvolvê-las, baseadas em estratégias de metodologias ativas de ensino, como trabalhos elaborados em forma de projeto, simulação, estudos de caso em grupo, aprendizagem pela ação, debate, entre outras. Essas estratégias de ensino podem contribuir significativamente para o ensino-aprendizagem das soft skills, estimulando o envolvimento dos estudantes de forma ativa na compreensão e cuidado, diante das experiências de sofrimento dos pacientes, sem reduzir, julgar, negar ou substituir os relatos. Como exemplo, podemos citar o Problem-based Learning (PBL)e o ensino baseado em projetos (Project-basedLearning), que se baseiam na resolução de problemas simulados ou reais em grupo como forma de combinar o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e a construção de um conhecimento técnico colaborativo e significativo.
Destacamos nesse editorial a importância do conhecimento e do treinamento técnico (hard skills), mas também salientamos a necessidade da discussão sobre incluir de forma intencional e sistematizada o treinamento adequado em soft skills na formação dos profissionais de saúde. O desenvolvimento dessas habilidades não técnicas parece desempenhar um papel crucial na equipe interdisciplinar e na abordagem integral do paciente, permitindo que os profissionais estabeleçam uma comunicação eficaz, demonstrem empatia, promovam a colaboração e compreendam a experiência de sofrimento vivida pelas pessoas com dor.
Dessa maneira, trazemos a discussão sobre a necessidade de se repensar o conjunto de objetivos, oportunidades e avaliação do ensino-aprendizagem das habilidades socioemocionais de profissionais de saúde, considerando estratégias ativas e centradas no aluno, que permitam o desenvolvimento dessas habilidades de maneira prática e significativa. Essas abordagens têm o potencial de melhorar significativamente a qualidade do cuidado e o bem-estar dos pacientes. Destacamos também a necessidade de que os estudos sobre a influência das soft skills na prática clínica, assim como os métodos de ensino-aprendizagem, sejam investigados no contexto da formação do profissional de saúde brasileiro.
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