Does fibromyalgia have a solution?
A fibromialgia tem solução?
Josimari Melo DeSantana; Anne Carolline de Freitas Souza; Jéssica Ellen Cardoso Santos
“May them help us live with this disease”, as mentioned by a woman with fibromyalgia in a qualitative study report, current evidence shows that fibromyalgia does not have a definitive solution. In this context, would there be effective alternatives for its treatment?
Fibromyalgia is a complex syndrome and the etiology is unknown. It’s characterized mainly by pain and generalized muscle fatigue associated with psychological changes such as anxiety and depression, as well as sleep disorders. Its prevalence in the Brazilian population is 2%, occurring mostly in women between 30 and 50 years old.
Simple daily activities that require minimal effort are affected by the persistence of pain and fatigue in daily life, as well as impairment to work functions, often making absence from work the only alternative for these individuals, causing financial impact, as can be seen in this report: “It is incredibly frustrating and almost demoralizing to have to justify my pain to my boss”. In addition, sleep suffers a devastating impact, since it is common for these individuals to wake up at night feeling pain, and this causes mood swings, such as nervousness and stress, as there is no physiological repair of the body provided by sleep. With this, social participation is also extremely compromised.
Despite the establishment of the Diagnostic Criteria presented by the American College of Rheumatology in 2010 (ACR 2010), there is a limitation of access to diagnosis and, consequently, to the treatment plan, due to the lack of preparation and outdated knowledge of some professionals who are willing to assist this public, and this is added to the lack of standardization and methodological rigor in scientific studies and the patients’ misinformation about their own clinical condition, which generates unsatisfactory results in clinical practice. Thus, fibromyalgia becomes an underdiagnosed, undertreated and, consequently, neglected disease, directly affecting the individuals’ quality of life.
Pharmacological therapy is commonly recognized as one of the main forms of maintenance treatment for fibromyalgia, such as antidepressants, cannabinoids and analgesics. However, there are a number of adverse effects such as drowsiness, altered level of consciousness and weight gain, which influence the quality of life of patients and result in loss of adherence to the pharmacotherapy or, on the other hand, drug abuse as an attempt to relieve symptoms. Thus, pharmacological treatment alone does not improve the patients’ quality of life, and an interdisciplinary approach in association with non-pharmacological treatment is necessary.
As for the non-pharmacological approach, evidence points to positive results for several resources, including regular physical exercise and transcutaneous electrical nerve stimulation (TENS). Exercise programs that include stretching, resistance and aerobic training, in a progressive, individualized and continuous manner, result in reduced pain, less new injuries and reduced kinesiophobia, in addition to improved body awareness, quality of life and cardiovascular function. Since patients with fibromyalgia are prone to recurrent muscle damage and are predisposed to neural sensitization, it is important to control the dose of exercises by monitoring the frequency, duration, volume and modality of practice, in order to prevent or minimize the effects of late muscle pain.
Regarding the TENS current, studies indicate that its application promotes pain relief and muscle fatigue by reducing temporal summation and restoring the function of descending inhibitory pathways. It is also worth mentioning that there is a deficit in the scientific literature regarding the standardization of the resources mentioned, making it difficult to act in clinical practice, as well as the perception of patients regarding their therapeutic options.
It is important to remember that the treatment of fibromyalgia requires time, and the patient must be the protagonist in this process, so adherence to treatment is essential to obtain positive results. However, in clinical practice it is common to observe demotivation due to the lack of specific knowledge from professionals, as can be seen in this report: “doctors do not always explain well, because they do not know much”. In this context, it is essential that there is constant training of health professionals for appropriate global assessment of the patient and adequate approaches to pain education in order to provide knowledge about fibromyalgia and associated comorbidities, as well as to enable strategies for self-management of symptoms and improvement of adherence to treatment, which tends to favor continuity of therapy and strengthening of the therapeutic alliance.
As a patient with fibromyalgia says, “Let them know that they can still lead a normal life, or the life they would like to live”, treatment should be guided to provide a life in balance with their condition, generating greater well-being and overall quality of life. Thus, the interdisciplinary and multimodal approach has been the best alternative for the treatment of fibromyalgia, since its complexity requires the work of several health professionals. This, so far, is the solution; a solution that does not necessarily represent a cure, but optimization of well-being and quality of life.
Resumo
“Que nos ajudem a viver com esta doença”, conforme mencionado por uma mulher com fibromialgia em um relato de estudo qualitativo, as atuais evidências mostram que a fibromialgia não possui uma solução definitiva. Nesse contexto, haveria alternativas eficazes para o seu tratamento?
A fibromialgia consiste em uma síndrome complexa, de etiologia desconhecida, caracterizada principalmente por dor e fadiga muscular generalizada associada a alterações psicológicas, como ansiedade e depressão, além de distúrbios do sono. Sua prevalência na população brasileira é de 2%, ocorrendo majoritariamente em mulheres entre 30 e 50 anos.
A realização de atividades diárias simples que exigem mínimos esforços é afetada pela persistência da dor e da fadiga no cotidiano, assim como há prejuízo às funções laborais, fazendo com que, muitas vezes, o afastamento do trabalho seja a única alternativa para estes indivíduos, ocasionando impacto financeiro, como pode ser observado neste relato: “É incrivelmente frustrante e quase desmoralizante ter que justificar minha dor para meu chefe”. Além disso, o sono sofre um impacto devastador, visto que é comum que estes indivíduos acordem durante a noite sentindo dor, fazendo com que haja alterações de humor, como nervosismo e estresse, pois não há a reparação fisiológica do organismo proporcionada pelo sono. Com isso, a participação social também fica extremamente comprometida.
Apesar do estabelecimento dos Critérios Diagnósticos apresentados pelo American College of Rheumatology, em 2010 (ACR 2010), existe uma limitação para o acesso ao diagnóstico e, consequentemente, ao plano de tratamento, devido à falta de preparo e desatualização de alguns profissionais que se dispõem a atender este público, isso somado à falta de padronização e rigor metodológico em estudos científicos e à desinformação do paciente sobre seu próprio quadro clínico, o que gera resultados insatisfatórios na prática clínica. Assim, a fibromialgia torna-se uma doença subdiagnosticada, subtratada e, consequentemente, negligenciada, afetando diretamente a qualidade de vida do indivíduo.
A terapia farmacológica comumente é reconhecida como uma das principais formas de tratamento de manutenção para a fibromialgia, tais como antidepressivos, canabinoides e analgésicos. Entretanto, há uma série de efeitos adversos como sonolência, alteração do nível de consciência, ganho de peso que influenciam a qualidade de vida dos pacientes e resulta em perda de adesão à farmacoterapia ou, ainda, por outro lado, abuso de medicamentos como uma tentativa de alívio dos sintomas. Assim, o tratamento farmacológico por si só não melhora a qualidade de vida dos pacientes, sendo necessário uma abordagem interdisciplinar em associação com tratamento não farmacológico.
A respeito da abordagem não farmacológica, existem evidências que apontam resultados positivos para diversos recursos, entre eles, prática de exercícios físicos regulares e estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS). Programas de exercícios que incluem alongamentos, treinamento resistido e aeróbico, de forma progressiva, individualizada e contínua, resultam em redução da dor, de novas lesões e de cinesiofobia, além da melhora da consciência corporal, da qualidade de vida e da função cardiovascular. Visto que pacientes com fibromialgia apresentam tendência à lesão muscular recorrente e são predisponentes à sensibilização neural, é importante controlar a dose dos exercícios através do monitoramento da frequência, duração, volume e modalidade da prática, com o objetivo de prevenir ou minimizar os efeitos da dor muscular tardia.
Com relação à corrente TENS, estudos apontam que sua aplicação promove alívio da dor e da fadiga muscular por meio da redução da somação temporal e restauração da função das vias inibitórias descendentes. Vale ressaltar que existe um déficit na literatura científica com relação à padronização dos recursos citados, dificultando a atuação na prática clínica, assim como a percepção dos pacientes a respeito de suas opções terapêuticas.
É importante lembrar que o tratamento da fibromialgia demanda tempo e o paciente deve ser protagonista neste processo, assim a adesão ao tratamento é imprescindível para obter resultados positivos, porém, na prática clínica é comum observar desmotivação devido à falta de conhecimento específico dos profissionais, pois, como se pode perceber neste relato “os médicos nem sempre explicam bem, porque não sabem muito”. Nesse contexto, é fundamental que haja capacitação constante dos profissionais de saúde para apropriada avaliação global do paciente e realização adequada de abordagens voltadas para a educação em dor a fim de fornecer conhecimento a respeito da fibromialgia e comorbidades associadas, bem como possibilitar estratégias para o autogerenciamento dos sintomas e melhora da adesão ao tratamento, o que tende a favorecer a continuidade da terapia e fortalecimento da aliança terapêutica.
Como diz uma paciente com fibromialgia, “Deixe-os saber que ainda podem levar uma vida normal, ou a vida que gostariam de viver”, o tratamento deve ser guiado para proporcionar uma vida em equilíbrio com sua condição, gerando maior bem-estar e qualidade de vida global. Dessa maneira, a abordagem interdisciplinar e multimodal se mostra como a melhor alternativa para o tratamento da fibromialgia, visto que sua complexidade exige uma atuação de diversos profissionais de saúde. Esta, até então, é a solução; uma solução que não necessariamente representa cura, mas otimização do bem-estar e qualidade de vida.
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