Brazilian Journal of Pain
https://brjp.org.br/article/doi/10.5935/2595-0118.2023010-en
Brazilian Journal of Pain
Editorial

Athletes choose to feel pain!

O atleta escolhe sentir dor!

Thaysa Passos Nery Chagas; Josimari Melo DeSantana

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We invite our readers to notice and appreciate the significance of the following accounts from runners who were included in one of our research projects: 1. “Running always shows that I can go beyond. I wanted to, and I did it! Even though I felt cramps for 10 km during the course, my heart was pushing me to the finish line. It was good. It is always hard and good”; 2. “The only thing that would make me stop running would be an extremely serious injury, something that would prevent me from walking, because as long as I am able to walk, I will find a way to run”; 3. “People who are addicted to running do it all, they can handle pain, they can handle everything”! 4. “Whose never felt pain before, right? If you train hard, if you want to evolve, you will feel pain, pain is part of the process. You can’t leave it aside”! Based on this kind of daily reports we have been receiving and anchored in the current literature, we present important points that support the title of this editorial: athletes choose to feel pain.
The regular practice of physical exercises, in general, contributes to the reduction of pain sensitivity, and endurance exercises are indicated as the main modulators of these responses. Thus, this type of exercise becomes an excellent option for people who seek to reduce pain, especially those related to chronic pain (for instance, fibromyalgia), which are associated to hypersensitivity and the reduction of endogenous pain inhibition.
When talking about athletes, pain perception arises in a completely different context, and when compared to individuals with chronic pain, who suffer from uncontrollable and unpredictable pain, we can realize that it is often a choice, that is, pain is voluntary and self-provoked, often by rigorous training and exhausting competitions.
Yes, athletes decide to feel pain! And, in these cases, it is important to emphasize that pain experiences do not always indicate detrimental physical conditions that will necessarily cause injuries or compromise training and competition. On the opposite, what is expected with regular exercise is that the pain pathways get used to the stimulus, that they adapt in a positive way, thus leading to a condition of less neural sensitivity.
In terms of pain sensitivity, athletes represent a distinct population, showing greater pain tolerance compared to non-athletes, but the question, however, is: which mechanisms can lead to differences in pain perception in athletes? To date, it is not known for sure: whether athletes improve their tolerance and pain threshold with training and become elite athletes, or whether it is something related to a natural selection (innate) and only the most tolerant and with higher thresholds are part of this select group.
Pain experiences accompany athletes during training, during the days following training, every day, for many years, and it is expected that they will adjust to the need to endure these painful events. Several hypotheses have been proposed, such as that repetitive exposure to low-intensity pain may induce physical and mental tolerance to pain or that increased baroreflex sensitivity may influence pain tolerance, but nothing has been completely defined yet. In the competitive scenario, pain can be very intense and yet not be aversive, there is a strong affective-emotional component, regarding the passion for the sport, often obsessive, involving pleasure, reward, and overcoming, which makes the athlete feel pain and continue to compete. This reflects a complex interaction between pain threshold (discriminative-sensory component of pain), pain tolerance (psychological perception of pain), and affective-emotional components, which are crucial to the comprehension of the athletes’ ability to withstand and overcome their own limits.

Resumo

Convidamos nossos leitores a perceberem e apreciarem o significado dos seguintes relatos de corredores que foram incluídos em um de nossos projetos de pesquisa: 1. “A corrida sempre mostra que eu posso ir além. Eu quis, fui e fiz! Mesmo sentindo câimbras por 10 km durante o percurso, o coração me impulsionava à linha de chegada. Foi bom. É sempre bom e sofrido”; 2. “A única coisa que me faria parar de correr seria uma lesão extremamente grave, algo que me impedisse de caminhar, porque se eu caminhar, eu vou dar um jeito de correr”; 3. “A pessoa que é fissurada por corrida faz de tudo, aguenta dor, aguenta tudo”! 4. “Quem nunca sentiu dor, não é? Se você treina forte, se você quer evoluir, você vai sentir dor, a dor faz parte do processo. Não tem como deixar de lado!”. Com base nesse tipo de relato diário que temos obtido e ancorados na literatura vigente, apresentamos pontos importantes que respaldam o título deste editorial: o atleta escolher sentir dor.
A prática regular de exercícios físicos, de modo geral, colabora para a redução da sensibilidade à dor e os exercícios de resistência (endurance) são apontados como os principais moduladores dessas respostas. Com isso, esse tipo de exercício se torna uma excelente opção para indivíduos que procuram reduzir quadros de dor, principalmente relacionados à dor crônica (por exemplo, fibromialgia), que estão associados à hipersensibilidade e à redução da inibição endógena da dor.
Quando se trata do atleta, a percepção de dor surge em um contexto completamente diferente e, quando comparado com indivíduos com dor crônica, que sofrem de dor incontrolável e imprevisível, podemos perceber que, muitas vezes, é uma escolha, ou seja, a dor é voluntária e autoprovocada, muitas vezes, por treinamento rigoroso e competições exaustivas.
Sim, os atletas decidem sentir dor! E, nesses casos, é importante ressaltar que nem sempre as experiências de dor indicam condições físicas prejudiciais, que necessariamente causarão lesões ou comprometimentos aos treinamentos e competições. Pelo contrário, o que se espera com a prática regular de exercícios é que as vias de dor se habituem ao estímulo, que se adaptem de forma positiva, levando, assim, a uma condição de menor sensibilidade neural.
Em termos de sensibilidade à dor, os atletas representam uma população distinta, apresentando maior tolerância à dor em comparação com não atletas, mas a questão, no entanto, é: quais mecanismos podem levar a diferenças na percepção da dor em atletas? Até hoje não se sabe ao certo a ordem: se os atletas melhoram a sua tolerância e limiar à dor com o treinamento e se tornam atletas de elite, ou se é algo relacionado à seleção natural (inato) e somente os mais tolerantes e com limiares mais altos fazem parte desse grupo seleto.
As experiências de dor acompanham os atletas nos horários e dias de treinamentos, nos dias seguintes aos treinamentos, todos os dias, por muitos anos, e o esperado é que eles se ajustem à necessidade de suportar esses eventos dolorosos. Várias hipóteses foram propostas, como a de que a exposição repetitiva para dor de baixa intensidade pode induzir tolerância física e mental à dor ou que o aumento da sensibilidade do barorreflexo pode influenciar a tolerância à dor, mas nada ainda fechado. No âmbito competitivo, a dor pode ser muito intensa e, ainda assim, não ser aversiva, existindo fortemente um componente afetivo-emocional, no que tange à paixão pela modalidade, muitas vezes obsessiva, envolvendo o prazer, a recompensa e a superação, que faz com que o atleta sinta dor e continue competindo. Isso reflete uma interação complexa entre o limiar de dor (componente discriminativo-sensorial da dor), a tolerância à dor (percepção psicológica da dor) e componentes afetivo-emocionais, que são crucias para entendermos a capacidade do atleta suportar e vencer seus próprios limites. 

References

1 Edwards RR. Individual differences in endogenous pain modulation as a risk factor for chronic pain. Neurology. 2005;65(3):437-43.

2 Geisler M, Ritter A, Herbsleb M, Bär KJ, Weiss T. Neural mechanisms of pain processing differ between endurance athletes and nonathletes: a functional connectivity magnetic resonance imaging study. Hum Brain Mapp. 2021;42(18):5927-42.

3 Tersarz J, Schuster AK, Hartmann M, Gerhardt A, Eich W. Pain perception in athletes compared to normally active controls: a systematic review with meta-analysis. Pain. 2012;153(6):1253-62.

4 Thornton C, Sheffield D, Baird A. A longitudinal exploration of pain tolerance and participation in contact sports. Scand J Pain. 2017;16:36-44.
 

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